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O SEGREDO DO AUTOCONTROLE

Atualizado: 16 de ago. de 2021


Estudos realizados em 1971, durante a guerra do Vietnã, apontaram que mais de 15% dos soldados, no fronte americano, estavam viciados em heroína e que 35% haviam experimentado essa droga. Tal constatação fez o governo americano criar um escritório de ação especial de prevenção ao uso de drogas. Esse projeto tinha como objetivo acompanhar todo o processo de recuperação e reintegração destes usuários de drogas às suas famílias.

Quando do regresso dos soldados viciados, foi visto que apenas 5% deles mantiveram o vício num período de um ano, e somente 12% recaíram dentro de 3 anos, ou seja, nove em cada dez soldados que usavam heroína no Vietnã, abandonaram o vicio quase da noite para o dia ao voltarem para suas casas e famílias. Fato que contrapunha totalmente o que se acreditava sobre os processos da dependência química até então.

Mas o que de fato ocorreu? O que motivou tamanha mudança no comportamento destes soldados, ao ponto de a grande maioria abandonar o vício sem qualquer intervenção ou tratamento? E como isso se aplica aos nossos hábitos, vícios e compulsões alimentares?

A resposta para essa pergunta é muito simples: MUDANÇA RADICAL NO AMBIENTE. Para os soldados, o ambiente da guerra estimulava os gatilhos que levam ao uso das drogas, o fácil acesso, as amizades que também eram consumidoras de drogas, viver em constante estresse físico e mental e, por fim, estarem muito longe de casa. No caso dos vícios alimentares, e entenda, todos temos algum grau de vício alimentar, aquele prato ou bebida que resistimos em abrir mão, ocorre o mesmo com as drogas. A comida é de fácil acesso, temos amigos que comungam dos mesmos gostos alimentares, estamos mergulhados em um cotidiano de estresse mental gigantesco, e, na grande e esmagadora maioria das vezes, a vida que levamos não é nem de longe a que gostaríamos de viver.

Diferentemente dos soldados que abandonaram “os maus hábitos” ao voltarem para casa, nós não temos para onde voltarmos, pois estamos em casa. Os soldados ao voltarem para casa, passaram a viver em um ambiente totalmente livre dos gatilhos que os levavam ao consumo das drogas. Perceba que quando o contexto muda, o hábito também muda. Um bom exemplo para isso é o usuário típico de drogas, aquele que foi acostumado a usar sozinho em casa ou com os amigos e que, de repente, é internado em uma clinica de recuperação. Em uma clínica de reabilitação o ambiente é totalmente livre de gatilhos que levem ao consumo de drogas. Por esse motivo os resultados são plenamente positivos. Mas o que as estatísticas demonstram é que 90% dos usuários de drogas retornam ao vício quando voltam para casa. Você reparou que esse é exatamente o número oposto aos soldados americanos que voltaram para casa após o Vietnã?

Todas essas informações contrariam toda e qualquer crença que tenhamos sobre maus hábitos, que correlacionam comportamento doentio com fraqueza moral. Então, se você está acima do peso e não consegue abrir mão de seus hábitos alimentares, certamente já ouviu a frase, “isso é fraqueza e falta de autocontrole”. É errado pensar que basta ter disciplina e todos os problemas se resolvem por si só. Pesquisas demonstram que pessoas que aparentam ter um grande autocontrole não são diferentes daquelas que tem dificuldade de se controlarem. O que ocorre é que as pessoas altamente disciplinadas são mais capazes de estruturar suas vidas e rotinas ao ponto que não seja necessária uma força de vontade sobre-humana ou um autocontrole gigantesco para seguirem com seus bons hábitos. Por este motivo, elas passam menos tempo em situações tentadoras do que as pessoas consideradas fracas e indisciplinadas. Em realidade, as pessoas com mais autocontrole são normalmente aquelas que menos precisam exercê-lo. Uma vez que é mais fácil praticar o autocontrole quando você não tem que usa-lo com grande frequência. Não quero dizer com isso que coisas como: persistência, foco, força de vontade, não sejam essenciais. O que quero te dizer é que: a melhor maneira de aprimorar essas qualidades não é desejar apenas ser disciplinado, mas sim, criar um ambiente mais disciplinado.

Para que esse conceito passe a fazer sentido para você é necessário, primeiramente, compreender como um hábito se forma no seu cérebro. Quando um hábito é codificado na sua mente, ele se torna pronto para ser usado sempre que a situação que o gerou se apresentar. Por isso, mesmo que abandonemos um determinado hábito por anos, ele pode voltar sobre forma de desejo quando a situação que o gerou se apresentar novamente. Na realidade, hábitos internalizados não se apagam por completo, ele somente fica adormecido até o momento em que formos expostos as situações que o geraram. Resumidamente, quando um hábito é codificado no seu cérebro, ele gera o desejo da ação, sempre que os estímulos ambientais reaparecem. Este é o motivo pelo qual determinadas estratégias de mudança de comportamento geram a condição oposta a que se pretendia.

Ao recorrermos a um plano ou programa para emagrecer é exatamente o que ocorre. Sabemos que a alimentação e a falta de exercício adequado nos levaram ao sobrepeso ou a obesidade, juntemos a isso a crítica social pelo nosso peso, aparência e condição física. Como se não fosse o suficiente, acrescentemos o fracasso em tentar emagrecer por inúmeras vezes no passado. Todo esse cenário é na verdade o gatilho que gera um estresse crônico e ansiedade, que nos leva a buscar o único remédio que o alivia, comer ainda mais, até não aguentar mais.

Tudo o que foi dito até agora prova que, se não prestarmos a devida atenção aos estímulos que causam nossos padrões alimentares deletérios, ao tentarmos resolver o problema, poderemos provocar o exato comportamento que desejamos eliminar. Saiba que todo mau hábito se retroalimenta, provocando justamente os sentimentos e desejos que tentamos entorpecer, funcionado desta forma: quando por algum motivo não nos sentimos bem, comemos uma pizza, e por termos comido a pizza, voltamos a nos sentirmos mal, por sabermos que não deveríamos ter comido aquela pizza. Mas pode ficar ainda pior. Quando estamos alegres, contentes e felizes, decidimos comemorar. Então, como um hábito perfeitamente introjetado saímos para comer e beber. Comemos sempre, quando estamos tristes, quando estamos felizes, e esse comportamento só gera um resultado: o aumento gradual e aparentemente sem fim do peso na balança.

O problema não está na comida em si, mas sim, na forma que comemos e como associamos os alimentos que escolhemos. Uma alimentação ruim gera apatia e desanimo. Quando estamos desanimados decidimos assistir televisão, mas a inatividade física ocasiona mais desanimo ainda. Você percebe que acabamos presos numa espiral negativa que cria dia após dia mais desanimo, frustração e doença? Tudo isso sem nos darmos por conta do que está acontecendo.

Estudos científicos demonstram o fato de que, ao apresentarmos uma foto de um simples cafezinho para um viciado em café, por apenas 33 milissegundos, é o bastante para estimular o sistema de recompensa do cérebro e despertar o desejo por tomar um cafezinho. Os cientistas chamam este fenômeno de Desejo Induzido por Estimulo. Essa velocidade é demasiadamente rápida para ser registrada conscientemente pelo cérebro. Ou seja, mesmo sem termos consciência de que fomos expostos a um estimulo, temos o desejo por tudo aquilo que fora anteriormente codificado em nosso cérebro como um hábito.

A grande verdade é: todos nós podemos nos livrar de um hábito, mas é pouco provável que o esqueçamos, mesmos que não seja usado por um longo período de tempo. Isso significa que simplesmente resistir a tentação de comer algo, é uma estratégia pouco eficaz, porque é muito difícil manter hábitos alimentares saudáveis em um ambiente negativo, uma vez que isso requer muita força de vontade. De certa forma, no curto prazo, conseguimos manter um determinado autocontrole, por isso, a grande maioria das dietas fracassam no final da segunda semana ou até o aniversario daquela prima. Mas a longo prazo, sempre cedemos aos estímulos do ambiente em que vivemos. A forma mais segura de conter os maus hábitos, é ir diretamente à raiz do problema, que na grande maioria das vezes é reduzir a exposição aos estímulos que os desencadeiam. É preciso retirar todo e qualquer estimulo gerador de um mau hábito do seu campo de visão, por que eles despertam o seu desejo sem que você perceba. Muitas vezes, basta remover apenas um único estimulo e todo um hábito simplesmente desaparece.

Não podemos depender apenas da força de vontade para resistirmos as tentações, pois assim, a longo prazo, acabaremos perdendo a luta. Saiba que o segredo do auto controle está em passar o menor tempo possível exposto aos estímulos que desencadeiam seus maus hábitos.

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